Esquema milionário de corrupção envolvendo a família Sérgio Alvarenga em Vila Velha: Justiça suspende contrato de locação de veículos
Na foto de capa, o empresário Sérgio Alvarenga, “rei das tendas”.
Após o Tribunal de Contas suspender uma ata de R$ 74.4 milhões de um Consórcio de município do Norte, por direcionamento para a empresa Vitória Prime Rental Car da família Alvarenga, a Justiça do Espírito Santo colocou mais um freio no esquema de corrupção do grupo, conhecido por dominar o mercado de locação de estruturas para eventos e, mais recentemente, de locação de veículos no Estado.
Em decisão recente, o juiz Marcos Antônio Barbosa de Souza, da 2ª Vara da Fazenda Pública Estadual e Municipal de Vila Velha, identificou direcionamento em uma licitação milionária e determinou a suspensão do contrato firmado entre a Prefeitura e empresa Vitória Prime, registrada em nome de Thiago Sousa Alvarenga, filho de Sérgio Alvarenga. A decisão foi mantida pelo Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES) no processo nº 5008631-64.2025.8.08.0035.
Um império familiar de contratos públicos
Sérgio Alvarenga é apontado como o patriarca de um esquema empresarial que movimenta milhões de reais em contratos públicos, especialmente em consórcios municipais. A família, que inclui esposa, filhos e genro, opera um sistema sofisticado envolvendo tendas, palcos, banheiros químicos e locação de veículos.
Para driblar investigações, o grupo diversificou suas operações, registrando empresas em nome de diferentes membros, todas voltadas para serviços similares. Essas empresas participam de licitações com indícios de manipulação, garantindo atas de registro de preços que são aderidas por prefeituras sem novos processos competitivos.
Um exemplo é a ata de R$ 74,4 milhões do Consórcio Intermunicipal do Norte do Espírito Santo (CIM Norte), vencida pela Vitória Prime. O contrato foi suspenso na semana passada pelo Tribunal de Contas do Estado, sob suspeita de direcionamento, conforme noticiou o jornal:
https://voxnoticia.com.br/Publicacao.aspx?id=594655
Licitação em Vila Velha: cláusulas de direcionamento no edital para favorecer a empresa de Sérgio Alvarenga
Na licitação de Vila Velha, a Vitória Prime foi declarada vencedora em um processo marcado por fraudes, conforme denúncia da empresa concorrente RPR locações e serviços.
A Justiça reconheceu que o edital continha cláusulas restritivas, como a aglutinação de serviços de locação de veículos com e sem motorista em um único lote, com valores idênticos. Essa exigência, incomum no mercado, inviabilizaria a participação de grandes empresas, como Localiza e Unidas, que não oferecem locação com motorista. Curiosamente, a Vitória Prime da família Alvarenga atende a essa condição específica.
Outro ponto questionado foi a exigência de um administrador registrado no Conselho Regional de Administração (CRA), algo que a empresa denunciante, afirmou nunca ter visto em 15 anos de atuação.
A Justiça também constatou que a previsão de valores idênticos para locação de veículos com e sem motorista contrariam a lógica contratual, já que o serviço com motorista é mais custoso. A manobra sugere que a inclusão do motorista no edital teve o objetivo de favorecer a Vitória Prime, já que a Prefeitura historicamente utiliza veículos sem motorista, conduzidos por servidores comissionados.
Intimidade com políticos permite lobby, favorecimentos e indicam pagamento de vantagens
Sérgio Alvarenga é conhecido por sua proximidade excessiva com políticos e agentes públicos, com presença frequente no gabinete da Prefeitura de Vila Velha e outras. Empresários do setor, que preferiram não se identificar, descrevem essa relação como “excessivamente próxima”, facilitando a manipulação de processos licitatórios e a adesão a atas sem concorrência.
Reconsideração judicial
Na sexta-feira, 30 de maio, o juiz Marcos Antônio Barbosa de Souza reconsiderou parcialmente sua decisão, permitindo a continuidade do contrato da Vitória Prime por seis meses, enquanto a Prefeitura organiza uma nova licitação sem os vícios apontados. A medida, segundo o magistrado, visa evitar prejuízos aos serviços públicos, mas mantém o caso sob escrutínio judicial.